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14.10.09

no meio dos turcos

- podíamos entrar amanhã na turquia, pois amanhã fazemos 6 meses de viagem! - disse eu, mas claro que queria entrar o mais rapidamente!
encontramo-nos em
istambul e apenas ontem reparamos que entramos na turquia, enganados com as datas...

- não rafael, as datas estão mal - apontando para os ficheiros das fotografias no computador - afinal entramos no dia 7 e não no dia 5!... isto de viajar faz com que nos percamos nos dias... percebem não percebem?

pois é, cá estamos em istambul! cheira a ásia mas nem vamos lá pôr os pés... com muita pena minha. fica para o ano, assim espero! chegar a istambul, salvou esta vinda à turquia. não que não tivesse a gostar mas senti pouco, mostrou-me pouco... não foi amor um amor louco de morrer que senti mas sinto que me quero apaixonar por este país, quero ver mais dele e penso que para isso temos de saltar para a parte asiática!

como foi a nossa passagem para a turquia, perguntam vocês. ora bem, foi assim:

passamos vários postos fronteiriços até chegarmos à terra de ninguém. estávamos com um enorme sorriso e sabia bem passar pelos carros, sem precisarmos de parar, pois os guardas olhavam para nós, sorriam e mandavam-nos avançar! quando chegamos ao posto de controlo turco, paramos para uma fotos, quase histéricos * e uma felicidade que saia pelos poros*! olhamos para o lado e vimos uma cabeça saída da cabine. esta gritou:
- welcome to turkey! - e deixou-nos passar.

último posto, já quase com os pés na turquia.

- dirijam-se à cabine 92 para tirar os visto"

eu sabia! não podia estar tudo a correr bem! eu tinha dito ao rafael:

- estamos a rir muito, isto ainda vai dar problemas...

30 euros para o visto! euros ou dólares. não tínhamos nem um nem outro... o que tínhamos de fazer era voltar para a bulgária, levantar dinheiro e cambiar para euros... na minha cabeça essas palavras suavam assim: "vais 10kms para trás, chegas lá cansada e com má cara. levantas a merda do dinheiro e voltas a fazer 10 kms para a turquia. trocas o dinheiro. somo esses 20 kms aos outros todos e fazes esses kms a mais, chateada, não vai ser nada fácil"

voltamos para trás, até chegar novamente aos postos búlgaros. não foi preciso ir mais longe! conseguimos fazer um pagamento de 30 euros com o multibanco e receber esses 30 euros em dinheiro! dinheiro na mão, pés ao pedal e finalmente, corpo na turquia!!! à entrada uma enorme mesquita. era sinal que estávamos num país bem diferente e agrada-me imenso sentir as diferenças!

a primeira terra que visitamos com as bicicletas nas mãos, foi edirme. foi aí que soube que ia gostar deste país! tentamos arranjar sítio para ficar, sem ficar em nenhum hotel. não conseguimos. foi aí que soube que ia ser difícil arranjar casas. tivemos de ir embora com muita pena nossa. deixamos para trás uma cidade bonita, com pequenas ruas e mercados interiores e exteriores. muitos gatos nas ruas, e todos eles gordos!

não dormimos numa cidade bonita, mas dormimos por trás de uma bombas de gasolina! era mais atrás de uma hotel, ao lado das bombas. relvinha bonita, sol a secar a tenda! o pessoal das bombas foi 5 estrelas connosco. o primeiro café compramos mas o segundo já foi oferta! o pequeno almoço foi tomado dentro de uma sala privada! que quentinho que estava lá dentro! na despedida tivemos direito a um frasquinho de água de colónia para cada um. será que cheirávamos mal? o último banho foi no dia anterior de manhãzinha... agradecemos e partimos.

até agora, a turquia não foi dos melhores países para se pedalar. o caminho é monótono, desinteressante e com aquelas descidas e subidas que detesto, aliás, detestamos! prefiro subir durante 10 kms e depois descer. agora o sobe e desce constante... que nervos!a nossa sorte ou a minha sorte, é que de 100 em 100 metros* temos uma bomba de gasolina. bomba sim, bomba não, parávamos, ora para um café, ora para um chá que nos ofereciam. as pessoas são do melhor! querem sempre falar connosco, saber de onde somos, o que fazemos ali, se queremos chá... estão sempre prontas a ajudar mas não encontramos pessoas como na macedónia. lá, abriam-nos a porta de casa, aqui não fazem o mesmo... mas falam connosco e fazem questão em oferecer-nos chá. bebem chá como os portugueses bebem café, ou mais até!

voltamos a perguntar um ao outro:

- cheiramos mal?

desta vez ofereceram-nos daqueles perfumes para pendurar no carro, como aqueles pinheiros, mas estes eram com o formato do país. agora andamos com o cheirinho à frente das bicicletas e nas descidas o morango paira no ar! agora todos a cantar: "o morango está no ar... uh uh uh"

nesse dia o caminho estava a ser realmente maçador, tanto para mim como para o rafael e é bom quando estamos em sintonia. fizemos poucos kms... mal vimos um sítio para montar a tenda, paramos e começamos a preparar a casa. ficamos num pequeno parque, onde as famílias turcas fazem os seus piqueniques e voltam para casa, deixando o lixo no sítio onde encheram a pança! que sujidade!!! encontramos um espaço verde para montar a tenda e o rafael ia tentando livrar-se de alguns papeis, guardanapos, preservativos... voltamos a enfiar-nos dentro do saco-cama, bem cedinho!


ouvia passos...

- rafael, estás a ouvir?

tentava perceber de onde vinham... não era nada... não havia ninguém, apenas um ratinho que passava junto da tenda e que visitou o nosso caixote do lixo...

novo dia e novamente sem destino! isso significa novo dia sem banho... só tiro a fita do cabelo para dormir... mas o cheiro, sentia-o... mal paramos numa bombas para o cafezito, enfiamo-nos na casa de banho. como soube bem lavar as parte íntimas!!! as casas de banho com sanitas turcas são óptimas, pois ao seu lado há sempre uma torneira! sabonete na mão e limpeza feita! tiro a camisola e estou de soutien, no meio da casa de banho a lavar debaixo dos braços e a cara. o rafael ainda lavou o cabelo... o meu era mais difícil. mas já estava contente com o meu banho! o cabelo continuava por baixo da fita, não o via, mas fazia comichão...

estávamos cada vez mais perto de istambul... era só preciso dormir mais uma noite... onde, não sabíamos... chegamos à costa! finalmente o mar! este não é como o adriático, este cheirava um pouco mal até... mas foi assim que passamos a noite, com a tenta virada para o mar! pedimos autorização a uns senhores para montar a tenta perto do café. estávamos com uma pequena esperança que um deles nos convidasse para sua casa. nada!... montamos a tenda e tivemos direito a usar a casa de banho! já estava a pensar num novo pequeno banho, mas desta vez não tinha água. preparamos o comer, e quando fomos tomar o famoso chá, tivemos logo convite para nos sentarmos com um senhor que não falava nada em inglês ou qualquer outra língua que não fosse o turco. mesmo assim mantivemos conversa durante mais de uma hora, com direito a mais chá e pevides de cabaça. até trocamos contactos! não quero imaginar como será a conversa pelo telemóvel… sem gestos… vai ser lindo vai!

fomos para a tenda e adormecemos ao som dos risos dos senhores que se juntaram ao nosso amigo.

novo dia e sem nenhum convite para tomar o pequeno almoço com nenhuma família... que tristeza! nós já diziamos:

- se não for para nos convidarem, nem vale a pena cumprimentarem-nos!

fizemo-nos à estrada em direcção a istambul. o caminho estava a ser difícil, mas a vontade de chegar era muita!

depois deixaram de aparecer placas e começou a aparecer uma grande confusão de carros! sabíamos que estávamos perto ! uma via rápida que atravessava a cidade. não consigo descrever a confusão de carros! estava com medo, acreditem! o pior, é que eles aqui não têm civismo nenhum e estive perto de ter uma grande acidente! ainda agora não sei como mantive o sangue frio e me desviei do carro! estava na minha faixa para continuar em frente, o rafael dá-me sinal verde para avançar, pois ao lado direito tinha um corte e tínhamos de ver se vinham carros atrás de nós que quisessem virar. o problema, é que não usam piscas… sendo assim, um boi (peço desculpas) ultrapassou-me e virou à direita!!! não sei como consegui fazer a mesma curva que ele. estávamos em harmonia com 10 centímetros de distância… quando me encontro na berma é que consegui respirar! fiz duas pilinhas com as mãos e chamei muitos nomes feios, em português, pois claro. tenho muita pena em não poder enumerar os nomes (a minha mãe lê o blog...) tentávamos sair da estrada mas sempre que perguntávamos a um polícia se, por ventura, não haveria outra estrada mais pequena, para podermos chegar vivos a istambul, eles diziam que não e mandavam-nos para a estrada do inferno. que nervos! estava cheia de medo com aqueles animais ao volante! voltamos a parar e ficamos a olhar um para o outro... não queria continuar naquela estrada, seria de doidos, mas todos nos mandavam para ela!... eis que para um carro, e dele saem dois homens!

- estão com algum problema, precisam de ajuda? - isto foi música para os meus ouvidos!

- sigam-nos, vamos levar-vos para a costa e de lá podem seguir em segurança! - que palavras tão bonitas!

claro que havia outra estrada! era impossível haver só aquela, mas como nenhum polícia sabia falar inglês, o mais fácil era dizer que era sempre em frente... finalmente à beira mar, e tínhamos uma pista para bicicletas no meio do parque! que bons homens! obrigada, obrigada e obrigada! a pista de bicicletas entrava num grande parque, onde muitas famílias estavam, sentadas na relva, com o seu grelhador. havia tanto espaço livre, mas havia famílias que gostam de grelhar as carnes, mesmo no meio da pista! tínhamos que interromper o nosso caminho para poder passar com cuidado...

istambul! cá estamos nós! chegamos no dia 10 e ainda cá estamos e a vontade de sair é pouca... as duas primeiras noites, foram passados na parte antiga da cidade. escolhemos um hostel e decidimos ficar alguns dias por cá.

istambul tem 10 milhões de habitantes, tantos como portugal inteiro! isto é uma loucura! é tanta gente que há sítios difíceis de caminhar...atravessar a cidade a pé é impossível, pois tem 120 kms de comprimento! a parte antiga da cidade é a mais turística. mas gostei de me passear pelas suas ruas estreitas e ver as suas casas velhas. fiquei admirada com a imensa quantidade de gatos que há na rua! e todos eles gordos!!! já descobrimos o porquê! estava o profeta maomé a dormir, e quando acorda, viu que estava um gato a dormir no seu manto. para não acordar o gato, o profeta rasgou o seu manto, e assim o bichano não acordou e continuou no seu sono profundo! lindo! sendo assim, o gato é como que sagrado e todos respeitam esse animal, deixando comida na rua e fazendo com que nada de mal lhes possa acontecer! os cães também são bem tratados. nunca tinha visto cães vadios tão gordos! vi os cães com uma espécie de brinco na orelha. e agora perguntem-me porquê! eu explico. é para os veterinários saberem a sua identificação, sim porque esses cães são vacinados e tratados! é um luxo ser gato e cão de rua na turquia! eu bem tento miar na rua mas nenhum restaurante me oferece comida...

o que gostei da parte antiga, foi entrar na mesquita azul. claro que tapei o cabelo - coisa que está escrito à entrada mas muita gente não respeita - e mesmo assim, deram-me outro lenço para tapar os ombros. um lenço azul claro. parecia a virgem maria!

o grande bazar é outra coisa a não perder, até nos podemos perder lá dentro, tal é o seu tamanho! mas fiquei um pouco desiludida... pensava que ia ter mais confusão, tipo marrocos, mas não, é tudo muito arrumado (atenção, em marrocos os mercados também são muito limpos!) com quase tudo dentro das lojas modernas... outro bazar que gostei foi o egípcio, esse sim! um mercado cheio de especiarias! adorei os cheiros!

agora estamos na parte moderna. bastou atravessar a ponte para nos sentirmos noutro país! até as pessoas são diferentes! estamos realmente numa cidade europeia! passeamo-nos numa rua que é o triplo da rua de santa catarina, no porto! lojas modernas com coisas giras! controlei-me para não colar o meu nariz nos vidros e para não me babar neles... aqui moram os ricos de istambul, e da turquia. conhecemos a mãe de um rapaz que o rafael conheceu na bulgária. foi realmente bom! está cá há 10 anos, a dar aulas de francês (pois, ela é francesa) mas antes esteve uns anos na bulgária e antes ainda, 6 anos em portugal! foi bom ouvir um pouco da sua vida e das suas viagens e foi bom ouvir o quanto ela gosta de estar cá e como gosta dos turcos!

saíndo de istambul, invertemos o trajecto... começamos a pedalar em direcçõo a casa. ainda falta para chegar mas o facto de saber que já estamos de volta a casa, parece que já deixa saudades. é difícil explicar...


*exagero da autora

Um comentário:

Bruno disse...

Excelente ideia, melhor concretização.

E parabéns por serem capazes de escrever enquanto viajam. Quando estou em viagem deixo-me absorver tanto, que a disponibilidade para as escritas acaba por ficar para trás.

Quanto á população de Istambul, há quem diga que são 17 milhões de pessoas, mas tudo dependerá de onde se estabeleça o limite da cidade. Mais de 12 milhões serão certamente, e com tendência para aumentar: é incrível a quantidade de população jovem.

Gostei bastante de lá ter estado. É uma cidade que abre os braços ao Oriente. Vale a pena prosseguir.

hum... que bom

pedaços de mim