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16.9.09

um paraíso infernal

como foi bom entrar na croácia! o rafael já tinha lá estado e ver as fotografias só me faziam sonhar em ir até lá! não disfarcei o meu entusiasmo ao passar a fronteira! sentia uma grande alegria mas essa alegria desapareceu quando encontrei as montanhas… é muito bonito querermos chegar depressa à praia, pois o calor é muito e queremos ficar uns dias parados no mesmo sítio, mas não me lembrei que a croácia está cheia de montanhas e estamos no verão. o facto de existirem montanhas, torna a paisagem muito mais bonita, mas isso não simplifica o caminho. os litros de água são muitos e até uma paragem nas bombas de gasolina para nos molharmos com a mangueira, foi feita. ainda não chegamos ao mar, mas estamos cada vez mais perto.

a primeira noite foi passada em cakovec, em casa da família do robert. aproveitamos para descansar, depois dos 111kms percorridos. desejei ficar mais um dia mas a pressa de chegar até zagreb era muita, por isso, mesmo sentido as pernas pesadas, lá fomos nós, com o número de telemóvel do ivan (amigo da prima do robert… ufa)

“afinal, a croácia não é assim tão montanhosa” pensei eu, no caminho para zagreb. mas chegar até a casa do ivan já foi outra história… estávamos cansados dos dias acumulados e chegar a uma capital, com muita informação, muitos carros, sem pista para bicicletas, tornasse muito mais cansativo. tudo me enervava e só desejava chegar rápido a casa, tomar um banho e não mais sair!

adoramos zagreb! cidade com um ambiente fantástico, com uma vida relaxada que, à primeira vista, não parece pertencer a uma normal capital europeia. pequenas ruas, e cafés para todos os gostos. não encontramos muita movimentação, pois a cidade “morre” um pouco no verão mas isso não nos incomodou muito! aproveitamos para descansar e visitar a cidade com calma, com o ivan e o seu amigo victor, sem nos obrigarmos em ver tudo. parávamos em esplanadas para uma cerveja ou suminho. sentíamo-nos em casa, sentíamo-nos bem mas depois da segunda noite bem dormida, tivemos de preparar as bicicletas e fazermo-nos à estrada, desta vez, sem saber onde iríamos ficar… queríamos chegar o mais rápido à costa e assim rompemos com a promessa de apenas fazermos 50 quilómetros por dia.

tínhamos o famoso papel para pedir autorização para montar a tenda no jardim e assim uma família acolheu-nos no seu quintal mas não uma família qualquer… temos a certeza que são das famílias mais bondosas daquelas redondezas! insistiram que fossemos dormir dentro de casa, mas preferimos passar a noite lá fora. pararam de trabalhar para se sentarem à mesa connosco, depois de terem preparado o café. sentados, contamos a nossa viagem, provocando neles uma grande admiração levando, a cada palavra, as mãos à cabeça. queriam saber se precisávamos de alguma coisa. não valia a pena dizer que não, pois apareciam sempre com novas coisas para nos oferecerem e, no meio delas, uns novos calções. depois de preparado, jantamos todos juntos por entre histórias passadas e presentes. rimo-nos às gargalhadas como há muito não nos riamos! na despedidas já não houve gargalhadas… o sorriso mantinha-se assim como uma lágrima em nós. tivemos de fugir de lá antes que desatássemos a chorar compulsivamente com direito a ranho e tudo… obrigada! foram fantásticos e sentimos saudades!!!

saímos em direcção a slunj, para vermos as cascatas e tínhamos como destino final, o parque natural plitvicka jezera. as fotografias das cascatas eram aliciantes! aliciante não foi o preço que pediram para pode vê-las ao vivo… é ridículo pagar para ver natureza. fomos obrigados a ficar num parque de campismo a pagar forte e feio… como detesto pagar para dormir ainda por cima sem condições! a paisagem, essa sim, era das mais lindas! estávamos rodeados de grandes montanhas!!! lindo! o que não era lindo era saber que para sair dali teríamos de atravessar duas montanhas com 1000 metros e com o imenso calor que se fazia sentir… mas como explicar a nossa emoção quando avistamos pela primeira vez o adriático? voltamos a não cumprir a promessa dos 50 kms por dia… queríamos mergulhar rápido no mar e sentir a sua água salgada!mas que dia duro!!! o calor era imenso, o corpo escorria, e não conseguíamos ultrapassar os 7km/h. as montanhas são muito bonitas, tivemos das paisagens mais bonitas desta viagem mas também digo que foi das mais difíceis!!! mas se não fosse assim tão difícil, nunca teríamos sentido o que sentimos quando avistamos o adriático! como utilizar as palavras? chegar ao topo, passar por um túnel e ao sair dele ter a visão do mar lá em baixo. era lindo o que tínhamos à nossa frente! a emoção era tanta em termos conseguido chegar até lá que não foi possível esconder as lágrimas que se misturavam com os abraços e os gritos de felicidade! conseguimos! foi duro mas conseguimos e quem chega lá de carro, nunca vai conseguir sentir o que sentimos, disso tenho a certeza!!! essa foi das melhores sensações que tive nesta viagem e não consigo dizer mais nada….

12 kms a descer, era o que tínhamos à nossa frente! descer em direcção ao mar até sentir dores nas mãos de tanto travar e finalmente, o tão esperado mergulho na água transparente! que sonho! nessa altura já sentia o sabor as férias, o corpo nuzinho ao sol, as bicicletas a descansarem numa garagem e nós a bebermos suminhos naturais em esplanadas… estivemos perto disso tudo… começamos as nossas férias dormindo na praia, juntinhos as bicicletas. não foi das melhores noites, pois havia uma festa e não se conseguia dormir com a música e algumas pessoas que passavam por nós e que não eram muito simpáticas… acordamos e decidimos fazer férias noutro sítio. atravessamos para a ilha de pag. continuávamos sem conseguir arranjar anfitriões e no primeiro dia na ilha, desistimos da ideia de estender a tenda num parque de campismo. como era caro! preferimos estendê-la num sítio proibido, bem juntinho ao mar, escondidos por entre a vegetação. há coisas que se complicam quando não temos casa de banho… fazer a depilação com uma gilette na água salgada, não foi das melhores experiências… o que começou por ser divertido, tornou-se enervante e por concluir.

foi nessa praia, que no momento em que estávamos sentados nas rochas, ouvimos “está um calor do cara*#” ao qual, sem pensar, respondi “pois está”. dois portugueses a sentirem o mesmo calor que estávamos a sentir… e assim a conversa começou e confirmamos mais uma vez que é fácil encontrar portugueses em qualquer parte do mundo!

saímos de novalja, onde apenas passamos uma noite e fomos até razanac onde encontramos um campismo baratinho e finalmente duas noites de descanso! a terrinha era pacata, o mar era delicioso, passamos os dias ora a mergulhar, ora estendidos ao sol. saíamos da praia quando já nos sentíamos cansados.

até aqui, parecia tudo perfeito! calor, mergulhos no mar, corpo nuzinho estendido nas pedras, muitos gelados… hum, maravilha! maravilha de pouca duração… croácia foi o país com as mais belas paisagens que passamos! é muito duro pedalar nela, mas somos recompensados, olhando para o adriático e as suas belas montanhas. é um país romântico! mas também tem o outro lado… é muito sujo!!! culpa dos turistas ou das pessoas da terra, não sei… não aposto nas pessoas da terra! só encontramos lixo na berma da estrada! mas no meio desse lixo, ainda conseguimos encontrar um telemóvel! é vergonhoso, um país que quer crescer e que aposta no turismo, seja tão descuidado. a costa, tornasse monótona quando não avistamos o mar. temos muita informação sobre a mesma informação… tudo a alugar quartos e o quintal para montar a tenda. como tudo está a alugar, é impossível pedir para nos deixares montar a tenda gratuitamente… sendo assim, croácia não nos ficou muito barata. ainda fizemos várias vezes campismo selvagem mas os banhos no mar não deixam o corpo limpo… alugar um quarto ou fazer campismo, fez parte da nossa estadia neste país que barato não é!

zadar! realmente muito bonito e realmente muito caro… foi lá que matamos um pouco as saudades de Portugal, estando com três senhoras de ovar que estavam de passagem por lá. de zadar, fomos descendo a costa, parando aqui e ali onde uma ou outra cidade ou monumento nos obrigavam a uma escapadela. passamos por cidades tão conhecidas e turísticas como sibenik, split, primosten, makarska ou dubrovnik mas também por outras pequenas povoações não tão bonitas, mas não menos turísticas.

os lugares para passarem a noite foram escolhidos consoante o cansaço. foi no caminho para dubrovnik que descobrimos o melhor sítio de toda a nossa viagem! uma casa abandonada, ainda no início da sua construção, foi nossa durante uma noite! com praia privativa! a vista é linda e tudo era relaxante! passamos uma das melhores noites!

mais uma cidade bonita. bonita e caro (lá está). pagar 50 euros para duas noites num campismo, foi de doidos, mas merecíamos, pois andávamos a pedalar dias seguidos sem nenhum dia de descanso! dos 17 dias na croácia, apenas descansamos 3 dias… esperávamos umas férias paradisíacas e tudo se transformou num pequeno inferno… muito bonito mas infernal! o corpo estava cansado, o calor era muito, as montanhas não paravam, e o vento começou a atacar com muita violência! chorei num dos dias… verdade… chorei de tão cansada que estava! não tinha forças nas pernas, não consegui subir a mais que 6kms/h, estava chateada comigo, mas o meu corpo não conseguia dar mais… desejava ter dias de descanso mas não foi possível. chegando a dubrovnik, mesmo pagando caro, ficamos duas noites, como forma de despedida da croácia que tanto gostamos, apesar de tê-la feito a fugir. tivemos companhia nesse parque de campismo! apaixonamo-nos por um gato que se apaixonou por nós… seguia-nos e permanecia perto de nós, ora ao colo, ora aos nossos pés. o que fazer quando se entra numa tenda e o gato fica à porta e pede para entrar? deixa-lo entrar, pois claro! e foi assim, dormimos os 3 juntinhos e quentinhos, pois lá fora estava uma grande ventania! no dia seguinte é que custou… dizer adeus ao gatinho foi coisa que não nos agradou. se já estaríamos perto de portugal, tenho a certeza que estaria comigo agora!

e foram assim os nossos dias nesse país que havemos de voltar!


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