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10.4.09

9 de abril - ninguém disse que ia ser fácil!

prontos para o segundo dia! destino: campo benfeito! aldeia com 60 habitantes! aldeia que gosto muito e onde estive a trabalhar, no teatro regional da serra do montemuro. bom destino para segundo dia de viagem, pois é sempre bom voltar e abraçar quem gostamos.
saimos cedo de várzea mas atrasamo-nos com a ida ao super mercado. às 10h tinhamos as compras feitas e prontos para partir! não fazia a mínima ideia do que nos esperava! os primeiros kms foram de morrer! sobe montanha, desce montanha (adoro) e estava outra montanha à nossa espera... as mudanças ainda não estão a 100% mas assim que mudei para as mais baixas, nunca mais voltei a precisar das outras! se não conseguia subir com as mudanças que tinha, saia da bicicleta e levava-a à mão... mas quem disse que era fácil puxar a bicicleta com o peso todo? parece tão fácil imaginar mas quando estamos com ela nas mãos e tentamos dar um passo e não conseguimos... facil é que não é! até tentava empurar a bicicleta com a cabeça para ver se seria mais facil, mas pouco ajudou... e via o rafael cada vez a ficar mais longe, e via uma curva e só pedia para ser uma descida, mas não, depois da curva era outra subida a rir-se para nós! muita água bebia e nenhuma estava na bexiga! chegámos ao topo da montanha e estava a escorrer, o cabelo molhado a respiração descontrolada! os meus olhos sorriam ao ver a descida que tinhamos à frente. rabo no selim e aqui vamos nóóóóós! era lindo o que os meus olhos viam, a serra e as suas cores, a vento fresco, o cabelo a esvoaçar... passou tudo tão depressa, nem deu para saborear a descida. nova subida, três pedaladas e... está quieto. desisto! os músculos arrefecem na descida e recusam a pedalar! estava a ver a montanha e o rafael dizia "temos que chegar ao topo". pois claro, ninguém disse que ia ser fácil... empurra tanya e bebe água e respira. (preciso de aprender a respirar) a água estava a acabar e a garganta ficava cada vez mais seca. paramos para descansar e comer uma barra energética na esperança das pernas pedalarem sozinhas. estavam duas senhoras, a quem perguntamos se era possivel encher as garrafas. ofereceram-nos água do reacho, fresquinha, deliciosa e que tem de durar muito tempo! prontos para partir, ainda tinhamos muito tempo para pedalar visto que só tinhamos feito pouco mais de 20 kms e na internet dizia-nos que eram precisos 54 kms para chegar ao nosso destino. lá fomos nós com muitas parecenças no caminho com a diferença de estar cada vez mais cansada! estremamente cansada! só tinha vontade de dizer "acampo já aqui!" já não gostava das descidas, porque pensava "porque que estamos a descer se já estou a avistar a montanha que temos de subir!" foi desesperante para o segundo dia, não estava preparada psicologicamente para isso, mas lá nos iamos rindo e fazendo pequenos vídeos. só podiamos rir e confessar que éramos mesmo doidos!
hora do almoço: pão com queijo com sabor a bolo de chocolate! não estavamos sozinhos, formigas xxl estavam connosco. não sei quanto kms já tinhamos feitos mas sei que ainda não tinham sido 35 kms. já passava das 13:30, tinhamos que nos pôr a caminho. volta o cenário de sobe sobe sobe, desce e sobe sobe sobe. juro que começava a ficar desesperada, bicicleta sempre à mão e o rafael cada vez mais longe até perder de vista, e passado um pouco lá vinha ele sem a bicicleta para me ajudar. santo homem! mas tenho de ser capaz sozinha, tenho que ter mais força, tenho de conseguir acompanha-lo, mas sei que não vou conseguir numa semana, mas sei que vou conseguir (é bom pensar positivamente).
cá está a tanya a descer a ganhar lanço para a subida que estava mesmo à minha frente. do nosso lado direito, umas cabrinhas a alimentar-se com boa erva, e no preciso momento em que ganho coragem para subir o rafael tenta adivinhar o pensamento da cabra e sai-se com esta: "e eu é que tenho um amigo que se chama burro" gargalhada atrás de gargalhada, e lá se foi a força para pedalar. novamente com a biciclicleta nas mãos. a água já tinha desaparecido mas por sorte, mesmo a nossa frente, estava um novo reacho. bendita água!
passávamos por terrinhas pequeninas e os olhares focavam em nós, deviamos ser seres estranhos... pediamos informações sobre o caminho e tinhamos sempre um dedo a apontar o caminho. repete o cenário, sobe e desce. muitas paragens, muito desespero e corpo cansado e novos vídeos para nos rirmos um pouco.
chegamos a um cruzamento e a nossa dúvida: é para a esquerda ou para a direita? passou um carro e fizemos sinal para parar. era para a esquerda e depois sempre em frente. bela descida! chegamos lá abaixo e não percebemos o sempre em frente pois éramos obrigados a curtar à direita ou à esquerda... arriscamos à esquerda e fomos sempre a descer. paramos para perguntar se estavamos na direcção certa. "ai.. por aqui vão dar uma grande volta, e vão subir muito! estão a ver aquela montanha? tem de passar para o outro lado! tinham que ter curtado à direita lá em cima. são só 3 kms, não é muito". não é muito? 3 kms a subir com a bicicleta à mão? devo chorar ou continuar? claro que tínhamos de continuar e agora iríamos continuar à chuva pois começou a chover torrencialmente! não queríamos parar para tirar os impermeáveis, só queríamos chegar lá acima e claro, sem a ajuda de nenhum santo.
agora sim, na direcção certa e estávamos a descer. chegamos a uma nova terrinha e fomos obrigados a parar pois as mãos estavam geladas e as luvas todas molhadas, assim como as nossas pessoas. luvas novas e roupa impermeável, cansados mas prontos para partir, depois de novas indicações.
nova terrinha, e perguntamos se estávamos bem “ui, por aí é muito longe… deviam ter ido por (e lá vem o nome de uma terra)” mas disseram-nos que era por aqui… voltar para trás já não voltamos já que também dava por aqui. A bateria do telemóvel foi abaixo…
e o cenário repete-se, subir e descer, por meio de bela paisagem! mas só queria chegar ao destino. os 52 kms já tinham passado e ainda estávamos muito longe.
já avistavamos castro daire, era bom sinal pois era um sítio que conhecíamos e estavamos perto do destino. empurrar a bicicleta até lá, já com a luz acesa pois já começava a escurecer. chegamos a castro daire! “ devem faltar 8 ou 10km” dizia o Rafael. “boa noite, para campo benfeito?”, “ah! ainda tem muito que andar, vão por ali que é mais perto”, “e quantos kms são?”, “ uns 25 kms” ok, mudança de planos para simplificar as nossas vidas, pois já estávamos com 70 km nas pernas, nos braços, no rabo… o plano do rafael foi “vamos até aos bombeiros, deixamos lá as bicicletas e a Neusa vem buscar-nos.” e assim foi, tinha de ser assim, só podia ser assim. lá fomos para os bombeiros, onde nos deixaram carregar o telemóvel. as bicicletas ficaram lá e fomos de carrinho para campo benfeito. era impossível continuar, eram 21h, frio, chuva e fome. ou ficávamos a dormir em castro daire ou vinham-nos salvar.
já em casa, banho quente, comida já feita e rodeados de grande amigos que adoro numa terrinha que adoro.
etapa conseguida com muito custo mas isso é porque somos doidos: ninguém faz 70 kms num dia no segundo dia de viagem… não sei, digo eu.


pequena nota: 9 de abril, comemoramos o nosso aniversário de namoro no meio da serra!

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