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25.4.09

23 de abril - chegamos a logroño

às 7 da manhã, o dia começava para os peregrinos e como fazemos parte do rebanho, também nos levantamos.

pequeno-almoço e mini aquecimento matinal. estava frio, muito frio. fomos obrigados a enfiar as luvas grossas pois os dedos, por pouco que não caiam ao chão! depressa aquecemos quando encontramos uma subida, ainda em alcatrão. logo pela manhã, custa tanto apanhar uma subida assim. no topo, já nos estávamos a desfazer de alguma roupa. o corpo estava um pouco mais cansado e iríamos fazer muitos kms nesse dia. optar novamente pelo caminho de santiago. Não sei se era por causa do cansaço, ou por já não ser novidade o que aparecia em frente mas as subidas custavam mais. já em terra batida, na primeira subida, um senhor ajudou-me a pôr a bicicleta direita. nessas situações o atrelado não ajuda. O rafael estava depois da curva, já no cimo da subida e apareceu quando já estava salva! Mais à frente a minha corrente saltou fora. bem chamei pelo rafael, até assobiei mas de nada valeu… mais uma vez um outro rapaz ajudou-me levantando a parte de trás da bicicleta e consegui retomar caminho.

Paramos numa terrinha para comer pão com chocolate dentro! Pouco tempo ficamos a descansar, retomamos o caminho. Apareceu-nos à frente do caminho um pequeno riacho. O rafael (qual indiana Jones) passou com a bicicleta pelo riacho, não fazendo bem as medidas, pois foi obrigado a por um pé dentro da água, para não cair com o corpo todo lá dentro. eu parei, saí da bicicleta. Tinha uma espécie de caminho feito em cimento, como se tivéssemos de saltar de pedra em pedra. Foi por aí que fui, mas claro, com a bicicleta pela água. cheguei ao outro lado com os pés quentinhos e sequinhos!

Fizemos bastantes kms antes do almoço e quando paramos numa pequena aldeia, decidimos encher o estômago. O rafael aproveitou para pôr a meia e a sapatilha a secar e eu aproveitei para ir ao aseos. ”inglês?” perguntou-me um senhor. O meu inglês é péssimo mas consegui explicar um pouco a nossa viagem, pois eles (o tal senhor e um casal mais novo) estavam admirados com o nosso atrelado. Fiquei contente com o meu inglês, ou melhor, por me ter feito entender… de novo à estrada no sobe e desce. Decidimos ir até logrono nesse mesmo dia, seriam mais uns quantos kms mas não estávamos assim tão cansados. Poucos kms depois, estavamos em nájera e adoramos o que vimos! Pensamos em ficar lá. procuramos o albergue mas quando vimos a fila de peregrinos para entrar, desistimos da ideia e voltamos a pedalar, pedalar mais 20kms para chegarmos a logrono. Agora é que o caminho custou! Quando o meu corpo sente que está perto de um banho quente e de um momento para o outro, tenho de o convencer a trabalhar mais 20kms, é a pior coisa que se pode fazer. Mas tinha de ser e ainda tinhas forças, nas reservas. Decidimos ir pela nacional para ser mais rápido. O sol estava a queimar! Tinhas as coxas vermelhas! Estou com um bronzeado de fazer inveja! Pézinhos brancos, pernas com um moreno claro, e coxas vermelhas (só a parte da frente, a de trás ainda estão brancas) não tenho a marca das cuecas do biquíni, mas sim, as marcas dos super calções sexy! sinto-me sexy!

Continuar pela nacional ou entrar pelo caminho? Um casal estava a sair do caminho e chamamos por eles. “inglês?” - “non!” - “français?” responderam positivamente e pela pronuncia perguntei “canadien” é inconfundível o francês do quebec! Que alegria a minha! “ moi aussi j’suis canadiene!” sabe bem dizer isso quando encontramos alguém de lá. também eles deixaram o trabalho e venderam tudo para viajar. Perguntamos se iríamos encontrar muitas subidas pelo caminho. Escolhemos fazer o caminho, pois a resposta agradou-nos bastante. Só iríamos subir um pouco no início mas depois seria sempre a descer!

Estamos perto de logrono. Entramos num grande parque, onde se vê muitas pessoas a passear e a fazer exercício. Ouvi um coisa estranha no pneu da frente. Era um pequeno pedaço de madeira que não saia do pneu e estava constantemente a fazer barulho. Decidimos parar para comer qualquer coisa. Olho para o pedaço de madeira e pensei “ah, és tu?” e tirei-o, pois não fazia parte da bicicleta! Atirei-o para o chão e comecei a ouvir “chuuuuuuu…” um furo… aquele tronquinho irritante era um ramo de uma rosa com um espinho… não podia levar isso como uma trágedia e com um sorriso disse ao rafael “a tanya teve o seu primeiro furo!” e contei a história do raminho com um único espinho… a comédia virou tragédia! da próxima vez, não volto a tirar nada que esteja espetado nos pneus, só quando chegar ao destino. Aprendi a lição, uma lição básica… e ouço a história da faca espetada que começa a jorrar sangue quando essa é retirada… sorte foi do furo ser no pneu da frente, que ambos sabíamos trocar! No de trás ainda não aprendemos…

Chegamos a logroño e o albergue estava cheio… ou fazíamos mais 10kms ou íamos para uma pensão. Optamos pela pensão. Não queríamos fazer nem mais um km! nisso apareceu um casal com os seus 60 anos, a quem perguntei “canadien?” encontrar dois casais canadianos no mesmo dia é fantástico! O que não era fantástico, era termos de ir para uma pensão… ninguém sabia onde ficava a pensão que a senhora do albergue nos aconselhou. Numa rua estreita paramos para olhar a volta… notava-se que não sabíamos para onde ir, nisso um rapaz aproxima-se e pergunta se precisamos de ajuda. Ele também não sabia onde ficava a pensão. No meio da conversa ele disse que, se não nos importássemos, podíamos ficar em sua casa! se não nos importássemos?! Quase que nos púnhamos de joelhos, a beijar-lhe os pés! Só podia ser um anjo caído do céu!

Fomos com ele para a sua casa onde a sua namorada abriu a porta com um enorme sorriso. as bicicletas ficaram no terraço e nós tivemos direito a duas toalhas de banho e a um quarto só para nós! tivemos pouco tempo com eles pois tiveram de sair, deixando-nos à vontade para usarmos a cozinha. Abrir o frigorifico, armários, dar uma vista de olhos nos livros e na decoração. Pareceram-me pessoas muito interessantes. E o facto de nos terem acolhido, só podiam ser boas pessoas! Ainda há boas pessoas neste mundo!


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