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16.4.09

14 de abril - hemos llegado

santa páscoa, santas doçarias! Levantar da cama e meios sonâmbulos, cometemos uma loucura, tomamos um banho quente logo de manhã, mesmo sabendo que o dia seria passado a suar. ao fazer o caminho para lá, vejo do meu lado direito a mesa recheada de doces! o bom de pedalar é que não me sinto culpada em comer muito, pois vou gastar tudo durante o dia. banho tomado, pequeno almoço tomado, sacos no atrelado e estava na hora de nos despedirmos da família que tão bem nos acolheu! tivemos indicações do melhor caminho a tomar e partimos, com uma pequena recordação, uma navalha de palaçoulo para cada um!

chegamos rápido a miranda, o tempo passou a voar e sentia-me em melhor forma. já estávamos perto da fronteira, perto de espanha, perto de novos caminhos! já avistávamos espanha quando decidimos parar para as últimas fotografias em portugal. estávamos mesmo contentes de termos atravessado portugal e não disfarçávamos essa alegria. o sorriso era enorme e nem nos assustava a subida que nos esperava em espanha. começamos a descer, saímos de portugal numa descida enorme, despedimo-nos de portugal em grande velocidade e foi rápida a estrada em espanha! novas fotografias já com a placa a dizer espanha! chegamos! senti essa chegada como uma pequena vitória! mas ainda não estávamos no destino desse dia: zamora!

aguentamos bem o início da subida, sempre com o rabo no selim, devagar íamos pedalando, mas claro, não conseguimos chegar ao topo… lado a lado com a bicicleta terminamos a subida, tarefa nada fácil! não me agradou ver tanta sujidade na berma… garrafas de plástico, latas, partes de sofás… mas no nosso portugal também encontramos muito disso!...

pedalar em espanha tornasse monótono… há uns pequenos altos mas nada de grave, pedalasse mesmo bem. o pior é que é uma recta que nunca mais acaba! pedalasse mesmo bem, é como quem diz… chegar a um ponto que já me sinto cansada e quando saio da bicicleta sou incapaz de caminhar em linha recta. mas não me quero queixar muito porque realmente estas estradas são para meninos… eu é que ando um pouco em baixo de forma mas os dias de fraqueza estão quase a acabar! no caminho só pensava no almoço! Isso significa paragem para descansar e qualquer coisa que pomos à boca é ouro derretido! não se pode desperdiçar qualquer migalha! estreamos as nossas navalhas, de um lado faca e do outro garfo. ficaram aprovadíssimas! já não me separo dela! acabamos de almoçar quando já eram 15:30. Pés nos pedais e força!

a estrada era comprida e as subidas assustavam mais ao vê-las do que ao fazè-las. sendo assim, tentava não desanimar ao ver uma subida, só precisava de ganhar bastante lanço e depressa chegava ao topo, e tinha que repetir várias vezes esse truque. Há truques que se gastam, e de tanto os fazer já deixam de fazer efeito, já estava cansada… cansava-me nas descidas, que não eram muito acentuadas e quando já estava no meio da subida já a minha respiração ficava alterada… arranjava mais truques, um deles era ouvir os grilos que eram muitos, e imaginar o que estavam a dizer. na minha cabeça era assim: forçaforçaforçaforça… e lá ia a tanya na meta final. quando via ovelhas, falava com elas, fazia mée e várias respondiam e assim fazíamos diálogos. numa subida, daquelas que detesto, tentei resistir e queria chegar ao topo sem sair de cima da bicicleta. não olhava para o fim da subida, não olhava para o lado, só olhava para o chão! várias pedrinhas pequeninas faziam o piso, gostava de ver as brancas. depois tentava olhar apenas para a linha continua e manter a bicicleta sempre na linha. estava concentrada nos meus pequenos truque, esquecendo o cansaço quando sinto o rafael ao meu lado a ultrapassar-me!!! com a bicicleta à mão!!! desisti! tanto esforço para nada… lado a lado, lá fui com a minha amiga.

os últimos kms são uma pequena tortura… o estar perto mas ainda faltar bastante… o cansaço, o peso nas pernas… o rabo que já começava a dor (depois de termos comentado o estranho que era de ainda não ter começado a doer). prometia a mim mesmo que no dia seguinte nunca seria tantos kms, que isto era de doidos assim, que estávamos a massacrar o corpo. mas quando finalmente se chega ao destino, quando olho para o conta-quilómetros e vejo que conseguimos 86 kms, sinto que cumprimos a missão!

zamora! sítio para dormir ainda não tínhamos… mas tínhamos uma ideia: procurar um albergue para peregrinos. e foi isso que fizemos. em frente do albergue, tocamos à campainha e veio um senhor abrir a porta e ajudou-nos a levar as bicicletas para o pátio. as bicicletas já instaladas, perguntou pelo passe de peregrino… pois isso ainda não tínhamos e explicamos que estávamos mesmo a começar o caminho. não havia problema! indicou-nos onde podíamos arranjar o passe e lá fomos nós. com o mapa na mão, seguimos a trajecto que o senhor nos tinha mostrado. qual mapa ao tesouro! estávamos no sítio certo, não podia ser outro, mas era muito estranho ser ali… entramos e na nossa frente tinha duas portas fechadas, à esquerda, entravamos para uma pequena capela… não fazia sentido… voltamos a sair e a olhar para o mapa. tinha de ser ali! Voltamos a entrar, e vimos que em frente mas no lado directo tinha um buraco na parede, mas que não dá aceso ao outro lado pois estava lá uma espécie de roleta da dimensão do buraco. tinha uma campainha e tocamos. Uma voz muito fraquinha que dava para perceber que muitos e muitos anos passaram naquela voz, perguntou o que queríamos. era difícil perceber aquela voz mas conseguimos o que queríamos. ela dizia o que tínhamos de pagar, deixávamos o dinheiro na roleta e ela rodava, aparecendo depois a nossa frente os passes para preenchermos, voltávamos a rodar e tinha o troco, e a última volta era o passe já carimbado. Sentia-me num casino a rolar a “roleta” mas sem ganhar nada… ainda tivemos de pagar. foi muito estranho, nunca tinha assistido a tal coisa! uma senhora ali fechada, sem ver o mundo cá fora, sem olhar para a cara das pessoas… não conseguia acreditar no que estava a acontecer… já com os passes nas mãos, voltamos para o albergue ainda abananados com o que experienciamos.

mais uma nova experiência para mim: ficar num albergue. dividir um quarto com outras pessoas, neste caso, éramos nós, mais uma francesa, um alemão e um espanhol. começamos logo a falar com a senhora e senti o meu francês muito enferrujado… a conversa foi muito curta pois estávamos mortos por um banho! não consigo explicar o que sinto quando a água quente cai em mim! só me dá vontade de rir e fechar um pouco os olhos para saborear o momento. a água cai e o cansaço desaparece. fim do banho e um pequeno passeio pelo centro. não achei muito bonito, do pouco que vi… achei bastante velho, como que abandonado… preferi ir descansar para o albergue depois de uma pequenas compras para o jantar. enquanto cozinhávamos, falávamos com a senhora francesa. anda sozinha a caminhar e diz que desde que começou a fazer os caminhos de santiago não quer outra coisa! vai sozinha, o que não agrada às filhas. tem 64 anos e um espírito aventureiro como quero ter quando chegar a essa idade! contou a sua vida, os dois casamentos que teve e que ficou viúva de ambos… e que foi a partir daí que decidiu mudar de vida. o que tinha perdeu importância, então decidiu vender a casa, desligar-se de tudo o que era material. começou a pensar nela e decidiu (depois de uma breve explicação) fazer os caminhos de santiago. que força de mulher! o jantar foi agradável em agradável companhia.

o rafael cozinhou, lavar a loiça fica para mim. no fim da loiça lavada, deito-me no sofá enquanto o rafael escreve o seu dia. depressa adormeci… só fui acordada para ir para cama. fiquei no 2º andar do beliche e como dormi bem!

2 comentários:

SZ disse...

Olá. Cá Estou conforme prometido a acompanhar a vossa fantástica aventura. Com uma inveja "boa" a corroer-me. Muita força, muita energia! Seria interessante, se conseguissem mostrar-nos mais fotos dos locais e das magníficas paisagens que, certamente vos vão acompanhando. É só uma sugestão.
Força!

Femme chocolat disse...

sz, temos outro blog dedicado apenas à viagem. este é o meu pessoal onde escrevo de tudo um pouco mas claro, como estou em viagem, escrevo mais sobre a viagem. o outro blog e o lado masculino da viagem, e mais completo. :) www.2numundosobrerodas.blogspot.com
lá há mais fotos

hum... que bom

pedaços de mim