
- parece que estamos na índia - disse ele. uma índia mais limpa e mais organizada.

ainda não chegamos ao continente asiático, mas este país da europa é realmente sujo, desorganizado e caótico!... mas gostamos dessa confusão que nos preenchia a cabeça e os olhos e pedalávamos com um sorriso nos lábios e com os olhos esbugalhados a absorver toda a informação possível! já estávamos a viajar há 5 meses e pela primeira vez, sentimos o choque das diferenças! são estas diferenças que procuramos. o sorriso aumentou quando nos encontramos numa pequena aldeia (suja, com 2 meninos a brincar numa lixeira), onde um grupo de crianças nos mandou parar.
- vinde a mim as criancinhas! tão lindas! tantas! - pensei eu.
depressa o meu sorriso desapareceu... depressa as crianças se transformaram em pequenas pestes, em pequenos bichos selvagens, tentando tirar tudo o que podiam das bicicletas, mas sem sucesso. o rafael já estava com cara de poucos amigos e eu já gritava com as pestes! pés ao pedal e fugimos o mais rápido possível daquela pequena selva... foi quando sentimos que estávamos a salvo, longe dos olhares das criancinhas... que paramos, olhamos um para o outro e os risos fizeram-se sentir! não éramos nós que queríamos novas experiências? pronto, tivemos uma nova! agora, sempre que avistamos criancinhas ao longe, a mandar parar, não paramos e se tentarem meter-se à frente, o mais certo é serem atropeladas, sem pena e sem piedade! continuamos o caminho, contentes, pois sabíamos que no próximo destino, teríamos uma pessoa à nossa espera, com uma cama, um banho quente e só pensávamos:
- vamos lavar a nossa roupinha que cheira tão mal!

estávamos perto de shkoder, onde iríamos ficar mas, antes de atravessar a velha ponte de madeira, tivemos de passar por um bairro muito pobre, muito sujo, com barracas em vez de casas... do outro lado da ponte, a pobreza continuava, mas longe de ser como aquilo que tínhamos visto... as crianças baloiçavam-se em baloiços improvisados nas placas de sinalização.
estávamos curiosos para saber quem seria o novo anfitrião, deste novo país tão diferente. ficamos à espera no local combinado. quase que não segurava as gargalhadas, quando vi um rapaz a olhar para mim com o olhar ridiculamente sedutor, rodando o maço de tabaco na mesa. tinha de disfarçar e olhar para as bicicletas, ver se estava tudo bem com elas...
as pessoas iam passando e tentávamos adivinhar quem seria ele... o tal... o anfitrião!
- é aquele. - dizia o rafael.
- que horror! não, por favor. - respondia eu.
o tempo passava e ele não chegava e a curiosidade aumentava. decidimos telefonar:
- estamos aqui à tua espera.
- demoro dez minutos - disse ele.
o diálogo foi bem mais comprido e claro, em inglês. sentamo-nos num café e esperamos. foi nesse momento, no momento da espera, que ele chegou. é difícil dizer a idade... parece uma criança que gosta de parecer um adulto. eu pouco falei com ele pois não estava a gostar da sua conversa... as suas palavras eram mais ou menos assim:
- há um pequeno problema... não podem ficar em minha casa... mas eu conheço um hostel muito

- não há problema... não me iria sentir bem em tua casa - pensei. pensei apenas... ele continuou:
- eu também tinha o sonho de ser actor, mas não podemos seguir apenas os sonhos, escolhi estudar direito para poder ser alguém na vida, com dinheiro. sabem como é...
- não, não sei... não estou a perceber o que queres dizer. ah! queres um alto carrão, uma casa de três andares com piscina? e já agora, uma massagista com um quarto lá em casa? - pensei novamente.
foi apenas um pensamento. a conversa já me estava a irritar...
- ah, outra coisa. - continuou ele. tenho de vos avisar que sou muito importante aqui. como estou ligado à política, sou muito conhecido, por isso não se admirem das pessoas me cumprimentarem.
- ai, o paleio estragado... não consegues ser um pouco mais humilde? um pouco mais simples? - foi apenas outro pensamento.
o tempo passava e a conversa não mudava. fomos até ao hostel e no caminho para lá, uma pessoa cumprimentou-o.
- eu avisei que era muito famoso aqui...
jurei para mim mesmo, que se ele continuasse com a conversa da fama, iria interrompê-lo dizendo:
- não te preocupes, eu sei o que isso é. eu também sou bastante famosa, mas não é só na minha terra, é em todo o país, pois sou uma grande actriz e todos querem falar um pouco comigo. no fim dos espectáculos, tenho de sair rápido e às escondidas porque as pessoas entram em euforia...
com muita pena minha, ele não voltou a falar sobre a sua fama...
ficou combinado encontrar-mo-nos para jantar e passar a noite juntos mas ele não apareceu nem disse mais nada... assim passeamos sozinhos, jantamos sozinhos e não sentimos saudades da vedeta. para nós, ele não era importante! sentamo-nos numa esplanada quando reparamos num casal de turistas. foram os primeiros turistas que vimos na albânia! minutos depois, passaram novamente e o rafael pergunta:
- são portugueses?
resposta positiva! sentaram-se e assim passamos a noite na conversa!
quando saímos de shkoder não sabíamos bem se subiríamos, se atravessaríamos directamente o país ou se iríamos até a capital, tirana, e de lá atravessaríamos o país até à macedónia. optámos em atravessa-lo sem passar pela capital. ficamos a dormir no exterior de um bar em construção. o dono deu-nos autorização! agradecemos muito! nessa noite o vento soprava forte, fazendo com que acordássemos várias vezes para segurar a tenda como se fosse possível ela voar connosco lá dentro... mas o vento assustava-nos. retomamos o caminho, mas depressa paramos para tomar o pequeno-almoço. foi nesse pequeno-almoço que decidimos mudar a rota e passar pela capital, pois um senhor alertou-nos para o mau estado do caminho. assim, voltamos para trás, e regressamos à estrada cheia de


- aí vai aço!
quem acha que existe trânsito em lisboa ou porto? não há trânsito lá! os carros deslizam em harmonia e buzinam apenas para se cumprimentarem.
mas que confusão para entrar em tirana! segui um senhor que se prontificou a ajudar-nos. chegamos são e salvos ao centro da capital e fomos à procura do hotel mais barato! saímos à noite e ficamos admirados com a quantidade de pessoas que se passeavam nas ruas. ficamos também admirados com a quantidade de raparigas bonitas. quem disse que as raparigas da polónia eram as mais bonitas? essas pessoas terão de visitar a albânia, agora que elas se encontram sem lenços a cobri-las! foi preciso sair da capital para nos sentirmos mais perto das pessoas. passamos a última noite numa pequena terra e com a ajuda de uma rapariga, conseguimos ficar num grande terreno junto ao rio. começamos a montar a tenda quando apareceu um senhor que não sabia uma palavra de inglês. ele falava e nos nada percebíamos... o senhor começou a rezar. seria uma reza? pensamos que sim, tínhamos quase a certeza que seria uma reza. estaríamos abençoados agora? o senhor virou costas e foi à sua vida.
aproximaram-se umas crianças... ui, ui... uma menina, dois meninos e um menino ainda mais pequeno. tentamos ignorar aquelas crianças, mas elas aproximavam-se cada vez mais e a menina começou a falar connosco. começaram a dar atenção às suas palavras em inglês. um inglês tímido mas impressionante. ficamos rendidos àquela menina de 12 anos, que sonha em visitar paris e a torre eiffel. era muito educada e querida. foram-se embora e não voltaram mais... com muita pena nossa... desgraça das desgraças! queríamos preparar o jantar quando reparamos que não tínhamos mais gás... decidimos fazer uma fogueira e tive de ensinar ao rafael como se fazia. só t

- super!
dos bolsos dele, nasciam figos, pepinos, pimentos, nozes... e assim conseguimos preparar uma bela comida... mas um pouco queimada... fomos para a tenda com o coração preenchido de coisas boas! a manhã despertou e despertamos com a menina no pensamento. decidimos passar na sua escola para poderemos trocar contactos e não lhe perder o rasto! e assim foi. a escola ficava na cidade seguinte e essa cidade estava no nosso trajecto. chegamos à escola e não foi difícil encontra-la! foi tão bom ver a sua alegria por estarmos lá! foi uma grande surpresa para ela! trocamos moradas e despedimo-nos uma vez mais. voltamos para as bicicletas e dissemos adeus a todos os meninos que acenavam. estávamos perto da fronteira com a macedónia mas foi preciso subir uma enorme montanha. a subida foi feita a brincar! terá sido por causa da bebida energética que bebemos? e assim subimos e descemos, deixando para trás a albânia, onde nos sentimos bem com as bicicletas, uma azul e a outra amarela.
Um comentário:
AMEi!!
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