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19.9.09

era uma vez...

era uma vez... eu e ele, nós os dois, juntos pela europa, querendo percorrer o mundo e ser realmente 2numundo! entramos na albânia com muita curiosidade em atravessa-la! como por magia, parecia que tínhamos saída da europa.
- parece que estamos na índia - disse ele. uma índia mais limpa e mais organizada.
ainda não chegamos ao continente asiático, mas este país da europa é realmente sujo, desorganizado e caótico!... mas gostamos dessa confusão que nos preenchia a cabeça e os olhos e pedalávamos com um sorriso nos lábios e com os olhos esbugalhados a absorver toda a informação possível! já estávamos a viajar há 5 meses e pela primeira vez, sentimos o choque das diferenças! são estas diferenças que procuramos. o sorriso aumentou quando nos encontramos numa pequena aldeia (suja, com 2 meninos a brincar numa lixeira), onde um grupo de crianças nos mandou parar.

- vinde a mim as criancinhas! tão lindas! tantas! - pensei eu.
depressa o meu sorriso desapareceu... depressa as crianças se transformaram em pequenas pestes, em pequenos bichos selvagens, tentando tirar tudo o que podiam das
bicicletas, mas sem sucesso. o rafael já estava com cara de poucos amigos e eu já gritava com as pestes! pés ao pedal e fugimos o mais rápido possível daquela pequena selva... foi quando sentimos que estávamos a salvo, longe dos olhares das criancinhas... que paramos, olhamos um para o outro e os risos fizeram-se sentir! não éramos nós que queríamos novas experiências? pronto, tivemos uma nova! agora, sempre que avistamos criancinhas ao longe, a mandar parar, não paramos e se tentarem meter-se à frente, o mais certo é serem atropeladas, sem pena e sem piedade! continuamos o caminho, contentes, pois sabíamos que no próximo destino, teríamos uma pessoa à nossa espera, com uma cama, um banho quente e só pensávamos:
- vamos lavar a nossa roupinha que cheira tão mal!
estávamos perto de
shkoder, onde iríamos ficar mas, antes de atravessar a velha ponte de madeira, tivemos de passar por um bairro muito pobre, muito sujo, com barracas em vez de casas... do outro lado da ponte, a pobreza continuava, mas longe de ser como aquilo que tínhamos visto... as crianças baloiçavam-se em baloiços improvisados nas placas de sinalização.
estávamos curiosos para saber quem seria o novo anfitrião, deste novo país tão diferente. ficamos à espera no local combinado. quase que não segurava as gargalhadas, quando vi um rapaz a olhar para mim com o olhar ridiculamente sedutor, rodando o maço de tabaco na mesa.
tinha de disfarçar e olhar para as bicicletas, ver se estava tudo bem com elas...
as pessoas iam passando e tentávamos adivinhar quem seria ele... o tal... o anfitrião!

- é aquele. - dizia o rafael.

- que horror! não, por favor. - respondia eu.

o tempo passava e ele não chegava e a curiosidade aumentava. decidimos telefonar:
- estamos aqui à tua espera.

- demoro dez minutos - disse ele
.
o diálogo foi bem mais comprido e claro, em inglês. sentamo-nos num café e esperamos. foi nesse momento, no momento da espera, que ele chegou. é difícil dizer a idade... parece uma criança que gosta de parecer um adulto. eu pouco falei com ele pois não estava a gostar da sua conversa... as suas palavras eram mais ou menos assim:
- há um pequeno problema... não podem ficar em minha casa... mas eu conheço um hostel muito
barato... era chato enviar-vos uma mensagem a dizer que já não dava para ficarem em minha casa...
- não há problema... não me iria sentir bem em tua casa - pensei. pensei apenas...
ele continuou:
- eu também tinha o sonho de ser actor, mas não podemos seguir apenas os sonhos, escolhi estudar direito para poder ser alguém na vida, com dinheiro. sabem como é...
- não, não sei... não estou a perceber o que queres dizer. ah! queres um alto carrão, uma casa de três andares com piscina? e já agora, uma massagista com um quarto lá em casa? - pensei novamente.
foi apenas um pensamento. a conversa já me estava a irritar...

- ah, outra coisa. - continuou ele. tenho de vos avisar que sou muito importante aqui. como estou ligado à política, sou muito conhecido, por isso não se admirem das pessoas me cumprimentarem.

- ai, o paleio estragado... não consegues ser um pouco mais humilde? um pouco mais simples? - foi apenas outro pensamento.
o tempo passava e a conversa não mudava. fomos até ao hostel e no caminho para lá, uma pessoa cumprimentou-o.
- eu avisei que era muito famoso aqui...
jurei para mim mesmo, que se ele continuasse com a conversa da fama, iria interrompê-lo dizendo:

- não te preocupes, eu sei o que isso é. eu também sou bastante famosa, mas não é só na minha terra, é em todo o país, pois sou uma grande actriz e todos querem falar um pouco comigo. no fim dos espectáculos, tenho de sair rápido e às escondidas porque as pessoas entram em euforia...
com muita pena minha, ele não voltou a falar sobre a sua fama...

ficou combinado encontrar-mo-nos para jantar e passar a noite juntos mas ele não apareceu nem disse mais nada...
assim passeamos sozinhos, jantamos sozinhos e não sentimos saudades da vedeta. para nós, ele não era importante! sentamo-nos numa esplanada quando reparamos num casal de turistas. foram os primeiros turistas que vimos na albânia! minutos depois, passaram novamente e o rafael pergunta:
- são portugueses?

resposta positiva! sentaram-se e assim passamos a noite na conversa!

quando saímos de
shkoder não sabíamos bem se subiríamos, se atravessaríamos directamente o país ou se iríamos até a capital, tirana, e de lá atravessaríamos o país até à macedónia. optámos em atravessa-lo sem passar pela capital. ficamos a dormir no exterior de um bar em construção. o dono deu-nos autorização! agradecemos muito! nessa noite o vento soprava forte, fazendo com que acordássemos várias vezes para segurar a tenda como se fosse possível ela voar connosco lá dentro... mas o vento assustava-nos.

retomamos o caminho, mas depressa paramos para tomar o pequeno-almoço. foi nesse pequeno-almoço que decidimos mudar a rota e passar pela capital, pois um senhor alertou-nos para o mau estado do caminho. assim, voltamos para trás, e regressamos à estrada cheia de camiões, cheia de confusão... tivemos de nos transformar em heróis para conseguir sobreviver nas estradas onde apenas heróis conduzem. são heróis sem capacete, sem cinto de segurança, sem respeito pelos outros... decidimos ser doidos e colocar o capacete! com o capacete posto, estávamos prontos e foi o "salve-se quem poder" e acompanhados com o grito de guerra:
- aí vai aço!
quem acha que existe trânsito em lisboa ou
porto? não há trânsito lá! os carros deslizam em harmonia e buzinam apenas para se cumprimentarem.
mas que confusão para entrar em tirana! segui um senhor que se prontificou a ajudar-nos. chegamos são e salvos ao centro da capital e fomos à procura do hotel mais barato!
saímos à noite e ficamos admirados com a quantidade de pessoas que se passeavam nas ruas. ficamos também admirados com a quantidade de raparigas bonitas. quem disse que as raparigas da polónia eram as mais bonitas? essas pessoas terão de visitar a albânia, agora que elas se encontram sem lenços a cobri-las! foi preciso sair da capital para nos sentirmos mais perto das pessoas. passamos a última noite numa pequena terra e com a ajuda de uma rapariga, conseguimos ficar num grande terreno junto ao rio. começamos a montar a tenda quando apareceu um senhor que não sabia uma palavra de inglês. ele falava e nos nada percebíamos... o senhor começou a rezar. seria uma reza? pensamos que sim, tínhamos quase a certeza que seria uma reza. estaríamos abençoados agora? o senhor virou costas e foi à sua vida.


aproximaram-se umas crianças... ui, ui... uma menina, dois meninos e um menino ainda mais pequeno. tentamos ignorar aquelas crianças, mas elas aproximavam-se cada vez mais e a menina começou a falar connosco. começaram a dar atenção às suas palavras em inglês. um inglês tímido mas impressionante. ficamos rendidos àquela menina de 12 anos, que sonha em visitar paris e a torre eiffel. era muito educada e querida. foram-se embora e não voltaram mais... com muita pena nossa... desgraça das desgraças! queríamos preparar o jantar quando reparamos que não tínhamos mais gás... decidimos fazer uma fogueira e tive de ensinar ao rafael como se fazia. só tínhamos massa, soja e uma mini cebola... quando a massa estava na fogueira, o senhor voltou. olhou para a fogueira e sorriu dizendo:
- super!

dos bolsos dele, nasciam figos, pepinos, pimentos, nozes... e assim conseguimos preparar uma bela comida... mas um pouco queimada... fomos para a tenda com o coração preenchido de coisas boas! a manhã despertou e despertamos com a menina no pensamento. decidimos passar na sua escola para poderemos trocar contactos e não lhe perder o rasto! e assim foi. a escola ficava na cidade seguinte e essa cidade estava no nosso trajecto. chegamos à escola e não foi difícil encontra-la! foi tão bom ver a sua alegria por estarmos lá! foi uma grande surpresa para ela! trocamos moradas e despedimo-nos uma vez mais. voltamos para as bicicletas e dissemos adeus a todos os meninos que acenavam. estávamos perto da fronteira com a macedónia mas foi preciso subir uma enorme montanha. a subida foi feita a brincar! terá sido por causa da bebida energética que bebemos? e assim subimos e descemos, deixando para trás a albânia, onde nos sentimos bem com as bicicletas, uma azul e a outra amarela.


hum... que bom

pedaços de mim