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27.9.09

chulos em viagem

há quem nos chame de "chulos"... e esta semana até nos rimos com algumas situações e reconhecemos a nossa quota parte de chulice. não percorremos muitos kms na macedónia, não vimos muito do país mas dentro do peito já existe um pequeno aperto de saudade! o que tornou este país tão especial? sem dúvida, a sua gente! a primeira cidade escolhida foi struga. seria difícil pedir para acampar pois a cidade não é assim tão pequena. estávamos cansados e queríamos mimar-nos! fomos a procura de um hotel. eu guardava as bicicletas e o rafael entrava nos hotéis... 35 euros que pediram no primeiro... pois, era impossível pagarmos esse valor, mas não sei que choradinho fez o rafael mas quando virou costas, ela disse:
- pronto, se não encontrarem mais barato, eu faço por 20 euros.
maravilha! não encontramos mais barato e voltamos para pagar os 20 euros! só quando entramos no quarto e vimos o luxo, é que reparamos que estávamos num hotel 4 estrelas! como é bom tomar uma banho quente e estender o corpo numa bela cama! sim, sentimo-nos uns verdadeiros chulos!
as montanhas reduziram de tamanho, o que nos agradou imenso mas, nesse dia, parecia que tinham escondido pedras nos nossos atrelados... ou as pernas estavam pêrras... o rafael queixava-se, eu queixava-me... íamos pedalando sem grande entusiasmo... parou uma carrinha à minha frente e o rafael diz:
- deve ser a nossa boleia.
- pediste? - perguntei muito admirada.

- claro!
(novo momento para se expressarem. pode ser com a palavra "chulos") entramos na carrinha e sentei-me num tronco de m árvore que fazia de banca, com uma almofada, para ser mais fofinho para o meu rabiote. é certo que havia certos toques nas minhas pernas quando o senhor metia as mudanças, mas logo a seguir, fazia uma expressão que mostrava que pedia desculpas. bela boleia de 50 kms!
ficamos numa bomba de gasolina e como era cedo, decidimos fazem mais uns quantos kms.
a segunda cidade escolhida para dormir, assim por acaso, foi prilep. não porque a queríamos visitar mas porque estávamos cansados e pedalar mais não fazia parte dos nossos planos. tentamos a nossa sorte e perguntávamos a jovens se sabiam de algum sítio onde pudéssemos montar a tenda. não tivemos muita sorte... dormir num hotel estava fora de questão! fomos mandados parar por uma pessoa de idade que queria ajudar-nos mas não falava uma palavra em inglês... veio outra pessoa, também esta de idade e também esta sem falar nada de inglês... não estávamos a perceber nada e penso que eles também não. apareceu um rapaz, que depois de umas quantos traduções, disse-nos para seguir os senhores pois eles iam arranjar um sítio para passarmos a noite. ambos os senhores montaram nas suas bicicletas e lá fomos nós atrás deles... muito lentamente...
chegamos a um estaleiro de madeiras! olhamos um para o outro e torcemos o nariz.

- onde é que vamos dormir? - pensei eu.
-onde está a relva para montarmos a tenda? - perguntou o rafael... mas qual relva. seri
a incapaz de recusar a ajuda daqueles dois senhores. aliás, três, pois apareceu outro que tinha o seu cantinho no estaleiro, onde dormia, comia, via televisão e bebia muito. todos nós olhávamos à volta na esperança de encontrar um espaço para a colocar. resultado: montamos a tenda dentro de uma casa em construção, sem janelas, sem nada, apenas com as paredes em tijolo em pé! perfeito! os três senhores reduziram-se a dois, e foi com eles que passamos uma das melhores noites! eu sentia-me uma princesa! o rafael não me podia dar pão com côdea que os senhores ficavam ofendidos! ele tinha de me dar pão fofinho! o jantar foi preparado por eles: salada de tomate, pimentos com sal, tomate cortado com sal e pão! parece pouco mas encheu bem o estômago. passamos a noite sempre na conversa, sim, mesmo sem falar a mesma língua, conseguimos passar uma noite agradável e com muito riso! no dia seguinte, o café esperava por nós, assim como um saco com tomates e chilis! (ouvi algum a chamar-nos chulos?) paramos numa mercearia para o pequeno-almoço e quando a senhora soube que éramos portugueses, o sorriso triplicou! quis saber a nossa história e sempre que alguém entrava na mercearia, dizia em voz alta de onde éramos e como chegamos até à macedónia!
- aah! - diziam quando nos olhavam.
estávamos nós a terminar o pequeno-almoço, quando ela nos presenteia com um bolo para cada um!
- querem um café?

já tínhamos tomado... tivemos de agradecer pelos bolos, mas o café teria de ficar para outra altura. (agora todos juntos: chuuulos! muito bem)
tínhamos casa em veles, a casa do ace. como seria desta vez o nosso anfitrião? o melhor é não pensar e chegar depressa até lá! chegamos sem grandes problemas. chuveu no caminho e tivemos de parar por baixo de uma ponte onde aproveitamos para comer um tomate com sal... conhecemos o ace e naquele momento soubemos que iríamos ficar mais do que uma noite. queríamos passar uns dias a descansar e assim foi. no dia seguinte passeamo-nos os três pela cidade que nos agradou! supostamente é uma das cinco maiores cidades da macedónia mas não deixa de ser uma cidade pequena, comparando com as nossas. não nos oferece grande coisa para ver mas fomos até à parte velha da cidade, que fica no cimo do monte e daí, podemos ver a cidade! no outro dia, não saímos de casa... dormimos e actualizamos algumas coisas na internet. foram dias de descanso com um anfitrião cinco estrelas que nos fez conhecer um pouco mais da macedónia.
- para sair de
veles, têm de atravessar aquela montanha e depois é sempre plano. - disse-nos ele. estávamos em direcção à fronteira mas não seria nesse dia que a atravessaríamos. pois o dia começou com a tal subida e depois, quando estava eu a descer a alta velocidade, ouço o rafael a gritar o meu nome desesperadamente. ok, não foi bem desesperadamente mas estava lá perto. tinha ficado uma vespa presa entre os seus lábios e claro, foi picado... não me lembro da dor de uma picada de vespa, mas pela reacção dele, deve doer bastante! olhei para o seu lábio e estava lá o ferrão da malvada! para continuar bem o dia, o rafael voltou a interromper as minhas boas pedaladas! um furo! não não era um simples furo... era um furo e um rasgão! ficamos mais 3 de horas ao sol a tentar remendar, sem sucesso, aquela dor de cabeça! estávamos com fome e sem saber o que fazer... ir até à próxima cidade que fica a 15 kms? iria estragar o pneu todo... podíamos tentar apanhar boleia, mas era domingo e não passava nenhuma carrinha. estávamos chateados! decidimos voltar para trás para as bombas de gasolina que tínhamos passado há 1 km atrás (pensávamos nós que seria apenas 1 km). já estávamos nos 4 kms percorridos quando o rafael pediu boleia mas a carrinha só parou ao meu pedido, que estava bem mais atrás. terá sido por ser menina? não quero saber! tínhamos sido salvos! os chulos foram salvos! poucos quilómetros à frente, a polícia mandou parar... a carrinha era de dois lugares e nós estávamos sentados no chão, junto das nossas bicicletas. tentamos explicar o nosso problema e ele deixou-nos seguir, explicando aos senhores onde nos podiam deixar para podermos comprar uma câmara-de-ar. foram 15 kms até stip. compramos o que precisávamos e os senhores só voltaram para o seu caminho, quando já estávamos montados nas bicicletas. o nosso dia ainda não tinha acabado... não tínhamos sítio para dormir e já estava a ficar noite...
- o ace conhece aqui alguém! - dito isto, o rafael telefona para ele e conseguimos sítio para passar a noite! grande ace!!! só tínhamos de encontrar a casa. perguntamos a um taxista pela rua, e quem nos ajudou foi um senhor que se prontificou em levar-nos até lá! é difícil seguir um carro, de bicicleta, então quando o caminho é quase todo a subir... chegamos à rua e ele fez questão em telefonar para o nosso novo anfitrião e só se despediu de nós quando ele chegou! pois é, aqui as pessoas são assim!
ele chamasse darko e fala pouco inglês... chegamos à casa com mais um furo no meu atrelado... deixamos o furo para o dia seguinte. só queríamos entrar em casa e descansar! conhecemos a mãe dele! que senhora querida e simpática e generosa e... ganhei muitos abraços! o darko dizia várias vezes que a sua mãe estava muito feliz por estarmos lá em casa!
voltamos a rir às gargalhadas e tínhamos de limpar as lágrimas de tanto rir! ria-mo-nos com as mímicas da senhora para nos explicar alguma coisa, ria-mo-nos quando ela punha os óculos que estavam tortos e o olho dela ficava do tamanho da lente gigante! fico contente por termos recheado aquela casa com alguma vida. para nós foi uma noite diferente e sei que para eles também foi e fico contente por isso!
delcevo, foi o último sítio onde ficamos na macedónia. já estava de noite e seria impossível continuar mais tempo. novamente sem sítio para ficar mas como somos os verdadeiros chulos, não estávamos preocupados com isso! estavam três senhoras na rua, as nossas presas! falamos com elas, com mímica, claro e em poucos minutos, já estávamos a seguir uma delas! levou-nos a uma rapariga que falava inglês. resumindo a história: não dormimos na tenda, ao frio. ela abriu a porta de uma casa em construção - quase concluída - abriu a porta de um quarto e disse:
- podem dormir aqui!

ficamos pasmados a olhar um para o outro... até tivemos vontade de dar uns pulinhos de alegria! duas camas com lençóis e uma televisão. tínhamos um fogão onde cozinhamos e tínhamos luz! água é que não mas que importância tinha isso?
passamos a noite sozinhos e aproveitamos para ver um filme, já que há mais de 5 meses que não o fazíamos! acordamos e a rapariga já estava à nossa espera lá fora. veio convidar-nos para tomar café na casa dos seus pais. claro que aceitamos o convite! saímos de lá com um saco cheio de pepinos e pêras e um frasco de aivar, que é óptimo! uma receita local feita de pimentos vermelhos e tomate. quantas vezes já nos chamaram de chulos? os últimos kms na macedónia foram a subir... uma hora e vinte minutos a subir... até doeu! chegamos à fronteira e o polícia da macedónia, sem mais nem menos disse:
- espero que voltem à macedónia!

foi a primeira vez que nos disseram isso numa fronteira. disse-nos aquilo com um sorriso sincero e isso a nós só nos encheu mais o coração! e pronto! só podemos falar bem deste país! fomos tão bem acolhidos e só queremos voltar! e as notas, são as mais bonitas!!! Itálico

Um comentário:

xistacio disse...

eu sabia!!!
XULOS!!!
:P

hum... que bom

pedaços de mim