

pedalamos debaixo do sol quente e por entre humidade até zielona gora. uma família acolheu-nos como rei e rainha! até tive direito a que o senhor afasta-se a cadeira para me sentar e encher o meu copo quando estava vazio… a senhora preparou-nos pratos típicos, dos quais ficamos fãs e durante a nossa estadia na polónia, repetimos vezes sem conta um dos pratos, os famosos pierogis ruskie. sentados à mesa, tivemos uma verdadeira lição de história sobre a polónia, sobre a alteração territorial que ela sofreu após a segunda guerra mundial, os problemas que sentiram com o comunismo… intercalando com a aula de história, tínhamos lições de polaco. saímos a dizer bom dia e obrigada.

se o caminho até zielona gora foi duro, o que posso dizer do caminho até lubin? como diria uma criança “foi duro ao quadrado” o calor obrigava-nos a parar de vinte em vinte quilómetros, bebíamos litros de água, estávamos a escorrer em transpiração, bichos minúsculos pretos colavam-se a nós, melgas realmente melgas que teimavam em nos comer, novamente rectas com grandes ondulações, campos de trigos e mais campos de trigo e assim chegamos a lubin, onde a jola nos preparou uma sopa deliciosa, enquanto tomávamos um banho quente e ofereceu-nos um sofá/cama muito confortável! assim esquecemo-nos do duro (ao quadrado) caminho.
acordávamos e preparamo-nos para partir, sim porque com a saída em lubin, faria o quinto dia a pedalar, sem um dia de descanso. até tenho

wroclaw é uma grande cidade. entramos nela e no momento em que paramos as bicicletas para olhar para o mapa, para um rapaz que se disponibiliza para nos ajudar. a ajuda foi muito bem-vinda, já que metade do caminho até casa dos nossos anfitriões foi na sua companhia. deixou-nos sozinhos quando o caminho se transformava numa recta de quatro quilómetros e lá encontraríamos, sem problemas, a casa. despedimo-nos prometendo um encontro num café, trocando números de telemóvel. finalmente em casa! não estava ninguém e não tínhamos o contacto do casal… esperamos e no momento da espera o rafael, olhando para o céu diz: “vem aí uma grande tempestade”. arrumamos as coisas sem grande pressa, quando o vento forte nos obrigou a ser mais rápidos. depressa nos abrigamos dentro do prédio e assistimos a uma enorme tempestade, primeiro com vento forte que levantava a poeira e depois a chuva e trovoada! o tempo passava e os nosso anfitriões ainda não tinham chegado e isso fez com que crescesse uma tempestade dentro de nós! esperamos três horas e nada!!! decidimos enviar uma mensagem ao rapaz que já nos dia ajudado, ao radek.
não só nos acolheu como nos veio buscar com uma carrinha. santo rapaz! a casa era tão acolhedora e qual foi o nosso espanto quando entra em casa a namorada dele, a monika. tínhamos passado por ela na rua, pouco depois de termos entrado na cidade. rapariga loira, com um vestido branco numa bicicleta. não podíamos ter encontrado melhor casal! ambos vegetarianos e amantes de bicicletas, como nós!
passeamo-nos pela cidade e sentimo-nos bem nela, sentimo-nos em casa. o centro é bonito com lindas fachadas, os gelados são óptimos e o tamanho das pizzas são de ficarmos de boca aberta a olhar para elas e soltarmos uma gargalhada! sabe bem comer muito e pagar pouco!

decidimos confiar as bicicletas ao radek e a monika e apanhar o comboio até cracóvia. seria um desvio muito grande para ir de bicicleta… quatro horas num banco duro, foi duro…
chegamos, penso que mais cansados do que se pedalassemos durante quatro horas! tudo o que acontece em cracóvia é a pensar no turismo, tirando isso, é uma cidade bonita. o bairro judeu é uma passagem obrigatória.
tivemos uma nova experiência no nosso alojamento. ficamos numa casa de cinco pessoas que aceitaram alojar mais dez. o resultado foi tudo ao molho e fé em deus. espanhois, belgas, australianos, canadianos, polacos, alemaes e, claro está, portugueses!
um dos momentos esperados na polónia, era visitar o campo de concentração em auschwitz-birkenau. fomos de autocarro para lá. é uma experiência que mexe cá dentro… entramos e temos a frase de boas vindas: “o trabalho traz liberdade” e só aí já fazemos má cara… passando a entrada e o arame farpado, olhamos à volta e esquecemo-nos onde estamos. hoje, é um museu. tudo está bem cuidado, e esquecendo o que lá se passou, seriamos capazes de dizer:”até vivia aqui”. cada bloco tem o seu número e cada um conta-nos um pouco do seu passado. tudo está bem tratado mas nada consegue esconder o que lá aconteceu… as fotografias das caras das pessoas que lá estiveram que forram as paredes do corredor , não deixam esquecer, os objectos pessoais que sobreviveram, não deixam esquecer. começamos a engolir em seco, os sorrisos desaparecem e caminhamos em silêncio, vemos uma mulher que se esconde numa janela para ninguém ver as suas lágrimas. choca quando olhamos para milhares de sapatos empilhados e choca mais quando vemos os sapatos das crianças todos juntos. noutra sala, vemos as malas, noutra os óculos, as próteses… entramos numa sala que tinha uma cheiro estranho. lá, encontramos os cabelos das mulheres, alguns ainda com tranças… o cabelo era usado para fazerem tapeçaria… choca olhar para as fotos mas por mais que lemos e vemos as imagens, penso que nunca conseguiremos imaginar o que essas pessoas sentiram, os seus medos, as suas dores… não temos fotos do interior pois era proibido… mas acredito que não irei esquecer o que vi.
saímos e fomos até birkenau. era lá que os comboios paravam e faziam a selecção das pessoas. já não o sentimos como um museu. o sítio é frio, cru, nu. as barracas sobreviventes mostram-nos as condições onde viviam. na nossa cabeça só aparece a frase: “como é que é possível?!”. nada foi pintado, nada foi tratado. o cheiro é estranho, o aperto cá dentro aumenta. as barracas que foram destruídas deixaram marcas, deixando ao alto as chaminés que resistiram ao tempo. saímos de birkenau e não parávamos de relembrar o que vimos, de comentar e repetir as mesmas perguntas. foi uma experiência bastante dura de viver.
nessa noite dormimos em kozy. apanhamos fruta das árvores e fomos passear ao monte e dormimos como anjinhos com a ajuda do enorme cansaço que transportávamos.
apanhamos novamente o comboio para junto das nossas bicicletas. depois de uma noite bem passada, voltamos à estrada. levamos connosco o número de telemóvel de um amigo do radek e da monika que nos convidou para a sua casa. aceitamos o convite e fizemos noventa e três quilómetros para chegar até nowina, uma pequena aldeia com sessenta

foi difícil sair daquela casa depois de duas noites bem passadas… despedimo-nos levando connosco um frasco de compota caseira. mais uma vez sentimos que marcamos de uma certa maneira as pessoas. ver o kuba a olhar em silêncio para as bicicletas com vontade de fazer o mesmo, pedir para experimentar a bicicleta e ver o sorriso na sua cara. em modo de brincadeira dizíamos para pegar na bicicleta e vir atrás de nós!
chegamos à última paragem da polónia, boboszow e ficamos noutra quinta que pertence à família do namorado da filha do jurek. foi uma estranha experiência… a filha não estava lá, ninguém vinha ter connosco e ninguém falava inglês…

acordamos ouvindo um cavalo ao lado da tenda a comer erva… levantamo-nos e começamos o dia na companhia dos cavalos, passando por eles e acariciando-os. passar por um porco e fazer-lhe miminhos e ele deitar-se como um cão cheio de mimos! falamos mais com o papagaio que eles tinham que propriamente com a família… quando nos despedimos das pessoas é que nos perguntaram se tínhamos vindo de portugal até ali de bicicleta, todos estavam curiosos… uma miúda fazia a tradução e assim conseguimos trocar umas duas frases…
foi assim a nossa aventura em terras polacas! no entanto, foi estranho, porque antes da segunda guerra mundial, muito daquilo que percorremos era alemanha… recomendamos polónia!!!
Um comentário:
Só para te deixar uma beijo especial boneca...
Reparei que já não estás a usar a pulseira que te dei :(
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