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16.8.09

rápida travessia pela república checa

entramos na república checa sem saber qual seria o nosso destino. queríamos chegar até brno mas sabíamos que não seria num só dia. éramos obrigados a parar a meio! tínhamos duas hipótese: campismo selvagem ou pedir a alguém para montar a tenda no jardim. o mapa mostrava-nos um grande lago, em trebovice, tentador para montar a tenda ao seu lado. ficava no nosso caminho e só tínhamos de pedalar 70 kms. pelo sim pelo não, tinha comigo um papel com as seguintes palavras: "potrebovali bychm misto na span", que foram traduzidas por uma rapariga a quem pedimos ajuda, numa das nossas paragens para atestar os nossos corpos com calorias. por isso é que o rabo não desaparece...
chegamos ao lago e não encontrávamos nenhum sitio seguro para acampar... não havia um espaço acolhedor para nós. decidimos estender o papel e ver o resultado. para mim, estas novas experiências são sempre bem vindas. na pequena aldeia ao lado do lago, encontramos um senhor num grande jardim. saio da bicicleta, encho-me de coragem e lá vou eu imitar a expressão do gato, no filme do schreck. resultou! o senhor sorriu e foi abrir o portão. sabíamos que ia ser difícil aquele fim de tarde, pois falar checo tornasse complicado para nós que só sabemos dizer obrigado e o senhor não sabia dizer obrigado em mais nenhuma língua. conseguimos explicar a nossa viagem com a ajuda da mímica e pedir para ir à casa de banho. o banho foi tomado com pequenos chapiscos pelo corpo, o suficiente para não entrar na tenda com cheiro a pés podres... montamos a tenda e o senhor parecia que queria dizer que nessa noite iria chover... é verdade que sempre que montamos a tenda, acaba por chover, mas o dia estava quente e nada dizia que ia chover.

não nos saía da cabeça que o senhor guardava dois cães numa pocilga, sem luz, com um cheiro nauseabundo e com as malgas vazias (há quantos dias não sei). de volta ao jogo da mímica mas agora com direito a som. "au, au" ou "hufe, hufe" (como latirão os cães na república checa?), ao mesmo tempo que apontava para a relva. depois de várias tentativas consegui que os fosse buscar. os cães estavam com o pêlo gorduroso e um deles, sem pêlos nas orelhas... corriam pelo quintal e vinham brincar connosco. cheiravam mal, mas isso não nos impediu de brincar com eles nem de lhes fazermos uns miminhos. conseguimos oferecer-lhes uma horinha de liberdade, mesmo que tenham apanhado umas palmadas do velhote... não conseguimos, nem tentamos explicar com gestos, que o que ele estava a fazer aqueles cães, era monstruoso. voltaram para a pocilga e nós ficamos sempre com eles na cabeça...

conhecemos o filho, senhor dos seus 40 anos, e tínhamos a esperança de ouvir algumas palavras em inglês. nada... mas pela expressão da sua cara o que nos disse em checo, deveria querer dizer que éramos muito bem vindos!

depois do jantar, achamos melhor entrar na tenda para cedo dormir. despedimo-nos, quando ele voltou a querer dizer que ia chover... sim, sim, pois está bem... mas tínhamos autorização de bater à porta caso uma tempestade se aproximasse.
nunca duvidar da sabedoria dos velhos! eram 23h quando o rafael me acordou, pois eu dormia já profundamente. uma tempestade aproximava-se... víamos o clarão dos relâmpagos e o seu ruído assustador. sacos de cama por baixo do braço e lá fomos bater à porta... entramos e sentamo-nos na sala, onde estava pai e filho a ver uma entrega de prémios musicais. tinha de morder o meu lábio para não me desatar a rir... só queria dormir, mas eles queriam que fizéssemos um pouco de sala. insistiram que bebessemos um sumo com gás que nem eu nem o rafael descobrimos o que poderia ser... o tempo passava e seguia uma musica atrás da outra... mordia com mais forca o lábio quando o filho olhava para nós, com as mãos nos joelhos e costas bem esticadas e com uma pequena inclinação, cantava com voz de criança e com grande sentimento. a entrega de prémios acabou e descobrimos que era uma gravação... pensávamos que já podíamos dormir mas não, tivemos de ouvir o filho a falar de não sei o quê... acenávamos positivamente com a cabeça, como se entendessemos, pois não valia a pena dizer o contrário... achamos melhor voltar para a tenda, pois sabíamos que a conversa não teria fim...

entramos na tenda e tínhamos ganho um colchão de água... a chuva não tinha parado mas encontrava-se mais calma. tentávamos não nos mexer muito para não fazer um furinho... que noite...

acordamos sãos e salvos e tomamos o pequeno almoço, partilhando a comida com o gato e às escondidas fomos dar pão aos cães, que devoraram tudo, num piscar de olhos. saímos depressa do quintal, agradecendo, pois claro, ao senhor, mas sem esquecer o mal que faz àqueles animais...

sabíamos que chegaríamos a brno, mas sabíamos que seriam muitos kms... sabíamos também que, mais uma vez, não tínhamos sítio onde ficar. é mais difícil estender um o papel a pedir para montar a tenda numa cidade cidade e brno é a segunda maior cidade da república checa. decidimos, pela primeira vez, experimentar um hostel. na primeira noite, partilhamos o quarto com mais 3 pessoas e na segunda noite com mais 4, em que dois deles não tinham um ressonar normal... era nojento, com diferentes notas e melodias, nada bonito ao ouvido do ser humano... encontramos pessoas de várias nacionalidades e trocamos experiências.

brno é uma cidade muito bonita, com edifícios robustos que se orgulham de não terem sido postos abaixo na segunda guerra mundial. visitámos a antiga prisão que tinha sido um castelo outrora. ponto obrigatório em brno! no segundo dia, apenas saímos para uma pequena volta e pouco mais... ficamos no hostel a comer bolos e pão...

quando finalmente conseguimos sair de brno, depois de 20kms percorridos, pedalamos em direcção à áustria, mesmo sabendo que não chegaríamos nesse dia e mais uma vez, não tínhamos onde ficar...
encontramos novamente um lago e neste tinhamos vários sítios para acampar mas como chegamos cedo, sentamo-nos na relva a comer, com os papeis nas bicicletas com esperança que alguém nos convidasse para o seu jardim. não tivemos muita sorte... tivemos de acampar e posso dizer que soube bem! a noite estava óptima, sem uma pinga de chuva! revestimo-nos com repelento e sobrevivemos aos mosquitos e aos seus ataques! dormimos como anjinhos e acordamos cheios de energia para percorrer as estradas da áustria! sabe bem acampar sem ninguém à nossa volta, sem falar com ninguém e ter uma vista magnifica para um enorme lago! esta esperiência, sim, quero repetir!

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